quinta-feira, 17 de abril de 2008

"Geração do ecran" - Artigo de Alice Vieira


Para quem tem filhos...e não só! Verdade, verdadinha.

Por Alice Vieira, Escritora

Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela
aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas
estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e
ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho
verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.
Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não
contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos
transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem
tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado
surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os
limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem
estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso
arrumava-se.
Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª
ministra - que não entra numa escola sem avisar…- é que tem coragem de
afirmar que não existe violência nas escolas…)
Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e
foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a
violência existe!
O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma
professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.
Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais
assustador.
Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as
nossas crianças são educadas por ecrãs.
E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos
olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.
E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por
dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida
de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava
trabalho.
E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto
acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as
auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram
por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala
para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou
o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou
espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas
igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.
A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.
A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de
comportamento.
E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.
E nós deixamos.

In Jornal de Notícias, 30.3.2008

'Pouco conhecimento faz que as criaturas se sintam orgulhosas. Muito
conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos
erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias as
baixam para a terra, sua mãe'. Leonardo Da Vinci


COMO NÃO EDUCAR UM FILHO
Policias de Houston, no Texas, publicaram uma lista de 10 “conselhos” para “criar um delinqüente”.
E interessante meditar neste resumo

1- Comece na infância a dar o seu filho tudo o que ele quiser. Assim, quando crescer, ele acreditará que o Mundo tem a obrigação de lhe dar tudo o que ele deseja.

2- Quando ele disser nomes feios, ache graça. Isso fá-lo-á sentir-se interessante

3- Nunca lhe dê qualquer orientação religiosa. Espere até que chegue aos 21 anos e “decida por si mesmo”.

4- Arrume tudo o que ele desarrumar: livros, sapatos, roupas. Faça-lhe tudo para que aprenda a atribuir aos outros toda a responsabilidade.

5- Discuta com frequência na presença deles. Assim não ficará muito chocado quando o lar se desfizer mais tarde.

6- Dê-lhe todo o dinheiro que quiser.

7- Satisfaça todos os seus desejos de comida, bebida e conforto. Negar pode acarretar “frustrações prejudiciais”.

8- Tome sempre o partido dele contra vizinhos, professores e autoridades. (Todos têm má vontade com o seu filho).

9- Quando ele se meter em alguma complicação séria, desculpe-se, dizendo que nunca o conseguiu dominar.

E, finalmente...

10- Prepare-se para uma vida de desgostos.

Vivemos num Mundo com tanta violência e visível falta de educação. Vale a pena pensarmos melhor nos valores que estamos a inculcar nos nossos filhos.
O Mundo precisa de gente de bem e a responsabilidade também é nossa.

“EDUQUEM AS CRIANÇAS E NÃO SERÁ PRECISO CASTIGAR OS HOMENS” Pitágoras

2 comentários:

Nélia Botelho disse...

Olá Carla!
Venho retribuir a sua visitinha e incentivá-la a voltar ao ponto de cruz.Vai ver que lhe vai saber bem!
Vou voltar com mais tempo para apreciar os seus textos, oportunos e actuais.
Tenha um bom fim de semana!
bjs
Nélia

Carla disse...

Obrigada pela visita Nélia! Eu adoro ponto cruz, e é óptimo para combater o stress do dia a dia, o problema é que temos de contar as casas...e com a minha pequena terrorista é mais díficil, mas vou ver se reato o que deixei pendente à 2 anos .
Bjs Carla